5 Verdades Surpreendentes Sobre Cavalos Que Vão Mudar a Forma Como Você os Vê
- paulobotteon

- há 13 horas
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Você já se perguntou por que seu cavalo vira com mais facilidade para a esquerda? Ou por que ele parece mais flexível em um lado do que no outro durante os treinos? Talvez você já tenha notado que ele se assusta com um objeto que se aproxima por um lado específico, mesmo que já o tenha visto dezenas de vezes pelo outro.
Essas não são apenas manias ou coincidências. São comportamentos profundamente enraizados na história, na biologia e na forma como o cérebro do seu cavalo funciona. O que muitas vezes chamamos de "lado bom" e "lado ruim" é, na verdade, um reflexo de tradições humanas seculares e da neurologia equina.
Neste artigo, vamos desvendar cinco verdades surpreendentes que irão aprofundar a sua conexão com seu cavalo, transformando seu entendimento sobre treinamento, segurança e comportamento. Prepare-se para ver seu parceiro de quatro patas com outros olhos.
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1. Por Que Montamos Pela Esquerda? Uma Tradição de Espadas, Não de Cavalos
A prática de selar, manejar e montar cavalos pelo lado esquerdo (o Near Side) é quase universal. Mas por quê? A resposta surpreendente é que essa tradição não tem nada a ver com a preferência ou a fisiologia do cavalo, mas sim com as necessidades dos cavaleiros medievais.
A vasta maioria dos cavaleiros era destra e, por conveniência e prontidão para o combate, usava a espada presa na anca esquerda. Montar pelo lado esquerdo era uma solução logística brilhante: ao balançar a perna direita sobre o animal, a bainha da espada não batia nas costas do cavalo nem corria o risco de ficar presa. Além disso, permitia que o cavaleiro controlasse as rédeas com a mão esquerda enquanto mantinha a mão direita dominante livre para desembainhar a arma ou se defender durante o próprio ato da montaria.
Hoje, essa prática é um anacronismo. Continuar manejando o cavalo exclusivamente pelo lado esquerdo por força da tradição ignora a necessidade fundamental de equilíbrio do animal. Essa tradição, focada em nossa conveniência, cria um desafio neurológico direto para o cavalo, que, por sua própria fisiologia visual, precisa desesperadamente de equilíbrio.
2. Seu Cavalo Pode Não Te Reconhecer com o Outro Olho
Os cavalos têm um campo de visão de quase 360 graus, mas a maior parte é monocular, ou seja, cada olho enxerga e processa imagens de forma independente. Isso leva a um fenômeno fascinante e crucial para qualquer cavaleiro: a "dissociação visual".
Na prática, um cavalo pode ver e aceitar um objeto com um olho e considerá-lo inofensivo, mas ao ver o mesmo objeto pelo outro olho, ele pode reagir com medo, como se fosse a primeira vez. Isso acontece porque a informação não é totalmente transferida entre os hemisférios cerebrais da mesma forma que em humanos.
Imagine a cena: você passa dez minutos acostumando seu cavalo a uma lona azul pelo lado esquerdo. Ele relaxa. No dia seguinte, você se aproxima pelo lado direito com a mesma lona, e ele explode em pânico. Ele não está sendo "difícil"; para o hemisfério cerebral que processa a visão do olho direito, esta é a primeira vez que ele vê a ameaça. Falhar em treinar os dois lados não apenas deixa o trabalho incompleto; cria ativamente um déficit de segurança.
3. O Olho Esquerdo é o "Scanner Emocional" do Cavalo
A preferência de um cavalo por um lado vai muito além da habilidade motora. Ela está diretamente ligada ao seu cérebro e à forma como ele processa emoções. Estudos sobre lateralidade visual mostram que a maioria dos cavalos prefere usar o olho esquerdo para avaliar situações ou objetos que exigem processamento emocional ou analítico, sejam eles positivos ou negativos.
A explicação é neurológica: o olho esquerdo está conectado ao hemisfério direito do cérebro, que é o responsável por controlar as reações de medo e fuga. Seja para avaliar um perigo potencial ou para analisar um humano com quem interage, o cavalo instintivamente posiciona o estímulo mais importante em seu campo visual esquerdo. É por isso que muitos cavalos parecem mais reativos a um estímulo apresentado por esse lado: estão usando seu "scanner de alta prioridade" para avaliar uma situação.
4. O Desafio da Assimetria: Um Problema Natural Agravado por Erros Comuns
É praticamente impossível encontrar um potro que seja perfeitamente simétrico. A maioria nasce com uma assimetria natural na coluna, uma leve curvatura preferencial para um dos lados. Essa condição inicial, se não for corrigida com um treinamento adequado, se perpetua e se agrava ao longo da vida, muitas vezes por erros comuns de manejo e equitação.
O pior cenário que um cavaleiro pode criar ao tentar corrigir a rigidez de um lado é um cavalo com a "nuca dura e o pescoço mole". Isso acontece quando, sentindo a resistência, o cavaleiro puxa a rédea de forma exagerada, dobrando demais o pescoço do animal. Ele passa do ponto correto de flexão — a nuca (a junção da cabeça com o pescoço) — e apenas "amolece" o pescoço. A rigidez original na nuca permanece, e a coordenação do cavalo é prejudicada.
Existe uma "regra dos 30 graus" para evitar isso: a flexão lateral correta da nuca nunca deve fazer o focinho do cavalo passar da ponta da sua espádua (paleta). Ir além desse ponto não resolve o problema. A metodologia correta é trabalhar os dois lados, mas no lado mais rígido, o objetivo é aumentar o grau de flexão da nuca, não o tempo de trabalho ou a flexão do pescoço.
5. O Galope: A Arma Secreta Para Equilibrar Seu Cavalo
Como você corrige os desequilíbrios musculares do seu cavalo? Muitos cavaleiros focam em exercícios ao passo ou na marcha, mas acabam negligenciando a ferramenta mais poderosa para esse fim: o galope.
A lógica é simples. O passo e a marcha são andamentos simétricos, ou seja, trabalham os dois lados do corpo de forma relativamente igual. O galope, por outro lado, é um andamento assimétrico. Isso significa que ele naturalmente exige mais da musculatura de um lado do corpo do que do outro e, crucialmente, promove uma incurvatura (flexão) através de toda a coluna do animal.
Essa característica é uma vantagem imensa. Ao galopar para um determinado lado, você não só está fortalecendo a musculatura específica daquele lado — ideal para corrigir atrofias —, mas também está trabalhando a flexibilidade da coluna de uma forma que os andamentos simétricos não conseguem. Incorporar o galope de forma consciente e equilibrada no treinamento é fundamental para desenvolver um animal verdadeiramente simétrico e atlético.
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Conclusão: Uma Parceria Construída na Ciência e no Respeito
Compreender o cavalo vai além de saber montar. Exige que superemos tradições obsoletas, como o manejo unilateral, e mergulhemos na ciência por trás de sua fisiologia — sua visão dissociada, seu cérebro assimétrico e sua biomecânica. Ao aplicar técnicas de treinamento que respeitam essa natureza, como o trabalho bilateral e a correção precisa da nuca, construímos uma relação de verdadeira confiança e harmonia.
O resultado é um cavalo mais calmo, mais seguro e mais responsivo. Uma parceria onde a comunicação flui porque é baseada no entendimento mútuo, e não na força.
Agora que você entende o porquê por trás dos comportamentos do seu cavalo, qual será a primeira pequena mudança que você fará no seu próximo treino?

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